domingo, 22 de fevereiro de 2009

Pessoal, semana que vem eu posto mais uma crônica. Enquanto isso, vou participar do joguinho entre blogs que o Brasil me convidou. Aí vai:

O joguinho é assim:
- Colocar o link de quem te indicou para a brincadeira;
- Escrever as regras para deixar o jogo mais claro;
- O mais importante: contar seis fatos aleatórios sobre você;
- Convocar seis blogueiros para fazerem o mesmo;
- Avisar os convocados.


1 – Sou uma dinamite com defeito, estouro de uma vez porque não tenho pavio.
2 – Sou papa goiaba (quem nasce em Niterói – RJ), mas odeio goiaba.
3 – Como boa geminiana, adoro fazer milhões de coisas ao mesmo tempo, mas nem sempre termino todas.
4 – Aprendi a rir das coisas ruins da vida, mas as pessoas ainda acham que eu sou irritada (desisti de convencê-las antes que eu me irritasse de verdade)
5 – Odeio que cantem parabéns pra mim no dia do meu aniversário (aguardem a crônica)
6 – Sempre quis ser a mãe dos sete anões, ao invés da Branca de Neve. Ela deve ter se divertido bem mais para ter feito 7 filhos.

Só não conheço 6 blogueiros para indicar (essa vou ficar devendo).

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Apertem os cintos!



Por ter morado em diversos lugares, os aeroportos, durante muito tempo, quase se transformaram na minha segunda casa. Foram inúmeras chegadas recheadas de alegria e expectativa de matar saudades e várias despedidas preenchidas com o vazio de deixar para trás, mesmo que por pouco tempo, as pessoas ou lugares que eu amava.
Mas o problema maior não era o aeroporto, e sim o fato de que nunca gostei, não gosto e nunca vou gostar de andar de avião. Sendo mais sincera, toda vez que opto por viajar pelo ar, já parto do pressuposto de que vou morrer. Meu ex-marido sempre argumentava:
- Fica tranqüila, se o avião cair são 99,99% de chance de você não sobreviver.
Relaxante, não?
Apesar do medo nunca deixei de voar, e sempre entro no avião com um olhar altivo, ao mesmo tempo desinteressado, como se estivesse indo à padaria. Simulo uma falsa segurança, pois acredito que se as pessoas perceberem o meu medo vão achar que eu sou algum tipo de idiota que está voando pela primeira vez.
Quando trabalhei na Renault tinha que viajar muito, e pensei que, com essas experiências compulsórias, acabaria me acostumando. Puro engano. Quanto mais você voa mais conhece os barulhos do avião, e qualquer ruído fora do padrão faz você congelar de medo.
Aliás, Deus podia ter-nos concedido a capacidade de voar. Pelo menos, assim teríamos em nossas mãos o total controle da viagem. Mas, como ele preferiu dar asas aos insetos e pássaros, dependemos da competência dos outros. Por isso, sempre tento achar uma solução que amenize meu medo. Uma das melhores que já concebi, mas nunca coloquei em prática, era me dopar com um lenço embebido em éter e ficar apagada durante todo o vôo. Quando acordasse, descobriria se estava viva ou morta.
O fato é que todo o processo, desde o check in até a saída do avião, é uma via crucis para mim. Cada etapa com a sua peculiaridade.
Abril de 2007. Aeroporto Santos Dummont. 5h30 da manhã. Cheguei ao check in, debrucei-me sobre o balcão, e entreguei o papel com o localizador do vôo para um simpático atendente chamado Marcos.
- Bom dia!
- Bom dia, é para São Paulo? – perguntou Marcos.
- Não, é Florianópolis, com conexão em São Paulo – disse eu.
- Vôo das 6h40? – ele questionou.
- Isso! – Confirmei.
- Pois hoje é o seu dia de sorte! – ele exclamou com um brilho nos olhos.
- Por quê? - perguntei apreensiva.
- Porque acabo de verificar que há uma vaga...
Instantaneamente tive vontade de colocar os dedos nos ouvidos e começar a cantar bem alto para abafar o complemento daquela frase.
- ...no vôo de 6h20 – disse o Marcos com um sorriso de ponta a ponta.
Com vontade de esganá-lo, esbravejei:
- O Sr. tem noção do que acabou de fazer?
- Não - respondeu ele com cara de ponto de interrogação.
- O Sr. acabou de colocar o destino da minha vida nas minhas próprias mãos! Agora vou ser obrigada a escolher entre duas opções, e isso não estava nos meus planos. Pense no problema que o senhor me causou. Eu posso trocar o vôo de 6h40 pelo de 6h20 e este avião cair. Ou eu posso decidir por permanecer com o vôo de 6h40, quando escolher o de 6h20 seria a minha salvação, pois o de 6h40 é o que vai cair.
- Mas minha senhora, nenhum avião vai cair – disse ele com um ar atordoado.
- O senhor não pode garantir isso, portanto não quero nem saber. Agora minha vida está em suas mãos. Caberá a você decidir em que vôo eu devo ir. E guarde bem o meu rosto, pois caso o avião escolhido por você caia, o senhor ficará com peso na consciência para o resto da sua vida.
Decidida e indignada, com a percepção de que o atendente teve a certeza de que eu era louca, dirigi-me à sala de embarque como um prisioneiro que caminha lentamente pelo corredor da morte. A sala de embarque é praticamente um zoológico recheado das mais variadas espécies: executivos, famílias em férias, adolescentes, idosos, etc. Um ponto que me intriga é quando os microfones anunciam:
- Srs. passageiros do vôo JJ3401 com destino a São Paulo: dentro de instantes daremos início ao embarque.
Existe um filtro auditivo que faz com que as pessoas ouçam:
- Srs. passageiros do vôo JJ3401 com destino a São Paulo, mesmo tendo assentos marcados, levantem-se imediatamente, briguem pelo primeiro lugar na fila e mofem por um tempo até o embarque começar.
E a fila quilométrica se forma.
Ticket entregue, avisto o avião imponente e preparado para receber seus passageiros. Nessa hora, um dos rituais que me deixam mais nervosa, adotado por algumas companhias aéreas, é fazer com que o piloto e co-piloto fiquem posicionados ao lado da escada de entrada do avião dando boas-vindas aos passageiros. Sempre encarei como um sinal do tipo: conheça aquele que será o causador da sua morte. Sem contar nos ímpetos de querer olhar bem fundo nos olhos do piloto e do co-piloto e dizer:
- Se deixarem esse avião cair eu juro que impeço a entrada de vocês no paraíso.
Ou perguntar:
- Vocês não deveriam estar na cabine verificando se está tudo ok e se concentrando para esse complexo trabalho que é pilotar um avião?Ainda nem tirei os pés do solo e a minha fobia de voar já começa a se manifestar. É o prenúncio do sofrimento que ainda está por vir. Santos Dummont devia ter parafusos a menos na cabeça; quem sabe até usou os parafusos retirados do próprio cérebro para construir com tanta ousadia e coragem essa máquina que nos dá, por alguns instantes, o privilégio de voar.

Então Tchau!


Um outro ponto que Deus deveria ter eliminado ao criar o ser humano seria a prolixidade. Ou então deveria ter criado um mundo paralelo só para os prolixos (com certeza esse mundo levaria algum tempo para ser formado, pois até eles chegarem a um consenso...) Um grande exemplo da prolixidade humana é o momento da despedida.
Reparem na despedida de um grupo de pessoas com a quantidade igual ou superior a três elementos. Não importa se você está saindo de um restaurante, da praia ou de uma festa na casa de um amigo. A despedida é sempre um momento eterno. Ela nunca se resume a um aperto de mão, a um forte abraço, ou a beijinhos. Não! Parece que a palavra tchau é a senha para se iniciar uma outra conversa interminável. E a extensão do novo assunto que se inicia é sempre proporcional ao quão desconfortável é o local da despedida: ao lado do carro num dia de inverno com a temperatura a 7 graus, na saída da praia com o pé queimando, na porta do restaurante após você ter decidido que deixaria para matar em casa aquela vontade de fazer xixi causada pelos vários copos de cerveja, e por aí vai.
E o pior é que sempre começa com um alarme falso: as pessoas dão beijinhos e abraços de despedida. Você tem a esperança de que elas vão se dispersar, mas, a partir daí, inicia-se a conversa interminável. E, normalmente, quem a puxa é o desgraçado que menos falou durante todo o encontro.
Exemplifico. Uma sexta-feira de julho. Curitiba. Temperatura média de 7°. Galera da Renault, onde eu trabalhava, reunida − 15 pessoas − para comer uma pizza em um daqueles rodízios que oferecem 100 sabores. Tínhamos esse encontro como um hábito para comemorar o início do fim de semana ou o final de mais uma semana de trabalho, tanto faz. Mas essa sexta era especial, pois íamos discutir detalhes de como seria a festa surpresa de despedida do nosso amigo francês Benoit. Entre uma garfada e outra, discutimos que passos adotaríamos para ele não desconfiar de nada. Aproximadamente à 1h da manhã, quando eu sentia os 7° que o termômetro marcava como se fossem 3°, inicia-se a despedida após a orgia alimentar. Estávamos todos parados de forma dispersa na porta do restaurante. O congelamento, assim que eu coloquei os pés fora do estabelecimento, parecia instantâneo. Tinha forte sensação de que o sangue havia parado de circular em minhas veias. E o arrepio que senti não foi de frio, mas sim de pensar quanto tempo levaria aquele momento de despedida com tanta gente envolvida. Tentei em vão dar um grito geral de tchau, aquele que você fala já se deslocando. Mas minha voz sumiu em meio aos estalos de dois beijinhos e abraços.
Foi quando o Sidney resolveu perguntar:
- Mas que música vamos colocar para recebê-lo?

- Acho que deveríamos tocar o hino francês já que ele está voltando para a França – falou Carla.
Tento sem êxito acabar com o impasse:
- Que tal cada um mandar a sugestão por e-mail? Aí depois resolvemos!
Fui totalmente ignorada.
- Não! O ideal é tocarmos um samba, para celebrarmos o fato de ele ter vivido a nossa cultura! – propôs André.
- E que tal gravarmos com a nossa voz um samba cantado em francês? – completou Marinalva.
E a maldita discussão de que música iríamos colocar na despedida começou a tomar proporções nababescas. Lembrem-se, 7 graus de temperatura e já se passaram 5 minutos desde que o primeiro tchau foi proclamado. Calculem: se o encontro no restaurante durou uma hora e gastamos 10 minutos na despedida, esse tempo de despedida representou 17% do tempo em que ficamos no restaurante. Então, por que diabos não se permanece mais tempo dentro do estabelecimento até acabar todo o assunto? No momento em que o garçom leva a conta e que todos se levantam, tenho vontade de perguntar,: alguém tem algo a acrescentar? Fale agora ou cale-se para sempre!
Já percebi, no entanto, que a solução é interromper o grande debate de despedida com um: então tá, gente, pelo amor de Deus vamos embora! Ou iniciar uma seqüência de espirros falsos para que pensem que estou apanhando uma tremenda gripe. O pior é que, ao conseguir o feito, as pessoas esquecem que já trocamos beijinhos e abraços no início da despedida e iniciam um novo ciclo que demora, pelo menos, mais três minutos. Tenho a leve desconfiança de que é por isso que na Itália, ao se encontrarem, as pessoas dão tchau ao invés de oi.