segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Então Tchau!


Um outro ponto que Deus deveria ter eliminado ao criar o ser humano seria a prolixidade. Ou então deveria ter criado um mundo paralelo só para os prolixos (com certeza esse mundo levaria algum tempo para ser formado, pois até eles chegarem a um consenso...) Um grande exemplo da prolixidade humana é o momento da despedida.
Reparem na despedida de um grupo de pessoas com a quantidade igual ou superior a três elementos. Não importa se você está saindo de um restaurante, da praia ou de uma festa na casa de um amigo. A despedida é sempre um momento eterno. Ela nunca se resume a um aperto de mão, a um forte abraço, ou a beijinhos. Não! Parece que a palavra tchau é a senha para se iniciar uma outra conversa interminável. E a extensão do novo assunto que se inicia é sempre proporcional ao quão desconfortável é o local da despedida: ao lado do carro num dia de inverno com a temperatura a 7 graus, na saída da praia com o pé queimando, na porta do restaurante após você ter decidido que deixaria para matar em casa aquela vontade de fazer xixi causada pelos vários copos de cerveja, e por aí vai.
E o pior é que sempre começa com um alarme falso: as pessoas dão beijinhos e abraços de despedida. Você tem a esperança de que elas vão se dispersar, mas, a partir daí, inicia-se a conversa interminável. E, normalmente, quem a puxa é o desgraçado que menos falou durante todo o encontro.
Exemplifico. Uma sexta-feira de julho. Curitiba. Temperatura média de 7°. Galera da Renault, onde eu trabalhava, reunida − 15 pessoas − para comer uma pizza em um daqueles rodízios que oferecem 100 sabores. Tínhamos esse encontro como um hábito para comemorar o início do fim de semana ou o final de mais uma semana de trabalho, tanto faz. Mas essa sexta era especial, pois íamos discutir detalhes de como seria a festa surpresa de despedida do nosso amigo francês Benoit. Entre uma garfada e outra, discutimos que passos adotaríamos para ele não desconfiar de nada. Aproximadamente à 1h da manhã, quando eu sentia os 7° que o termômetro marcava como se fossem 3°, inicia-se a despedida após a orgia alimentar. Estávamos todos parados de forma dispersa na porta do restaurante. O congelamento, assim que eu coloquei os pés fora do estabelecimento, parecia instantâneo. Tinha forte sensação de que o sangue havia parado de circular em minhas veias. E o arrepio que senti não foi de frio, mas sim de pensar quanto tempo levaria aquele momento de despedida com tanta gente envolvida. Tentei em vão dar um grito geral de tchau, aquele que você fala já se deslocando. Mas minha voz sumiu em meio aos estalos de dois beijinhos e abraços.
Foi quando o Sidney resolveu perguntar:
- Mas que música vamos colocar para recebê-lo?

- Acho que deveríamos tocar o hino francês já que ele está voltando para a França – falou Carla.
Tento sem êxito acabar com o impasse:
- Que tal cada um mandar a sugestão por e-mail? Aí depois resolvemos!
Fui totalmente ignorada.
- Não! O ideal é tocarmos um samba, para celebrarmos o fato de ele ter vivido a nossa cultura! – propôs André.
- E que tal gravarmos com a nossa voz um samba cantado em francês? – completou Marinalva.
E a maldita discussão de que música iríamos colocar na despedida começou a tomar proporções nababescas. Lembrem-se, 7 graus de temperatura e já se passaram 5 minutos desde que o primeiro tchau foi proclamado. Calculem: se o encontro no restaurante durou uma hora e gastamos 10 minutos na despedida, esse tempo de despedida representou 17% do tempo em que ficamos no restaurante. Então, por que diabos não se permanece mais tempo dentro do estabelecimento até acabar todo o assunto? No momento em que o garçom leva a conta e que todos se levantam, tenho vontade de perguntar,: alguém tem algo a acrescentar? Fale agora ou cale-se para sempre!
Já percebi, no entanto, que a solução é interromper o grande debate de despedida com um: então tá, gente, pelo amor de Deus vamos embora! Ou iniciar uma seqüência de espirros falsos para que pensem que estou apanhando uma tremenda gripe. O pior é que, ao conseguir o feito, as pessoas esquecem que já trocamos beijinhos e abraços no início da despedida e iniciam um novo ciclo que demora, pelo menos, mais três minutos. Tenho a leve desconfiança de que é por isso que na Itália, ao se encontrarem, as pessoas dão tchau ao invés de oi.

3 comentários:

  1. hahahaha típico do meu pai levantar polêmicas na hora das despedidas, nos lugares mais "oportunos", rs.....
    Lilian Costa

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  2. ... sabe, consigo visualizar direitinho a sua cara de felicidade neste dia.

    Beijos,

    PS.:
    Não poderia deixar de falar que vou me lembrar disso aqui para sempre. Acho que você acaba de criar um monstro... Espere até a nossa próxima despedida. HA HA HA.

    Beijos,

    PS2: Ah!! já ia esquecendo de dizer que morri de rir com a sua sugestão de despedida: 'alguém tem algo a acrescentar...' é muito bom.

    Beijos,

    PS3: Na verdade esse é sem motivo nenhum. Só para irritar.

    Beijos,

    (...)

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  3. Tati, lembrei muito da nossa "ultima" despedida antes de tudo mudar há 4 anos atras. Me lembro que Lila chorou e ela não costumava fazer isso. O ideal seria termos e aproveitarmos as pessoas que temos, enquanto as temos proximas a nós. Saudades!!!

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